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MÊS DA MULHER Ana da Maniçoba: “Se eu pudesse nascer de novo, queria ser mulher e negra”
27 de março de 2024

A trajetória dela poderia ser igual a de tantas mulheres de origem humilde, negra e sem muito estudo, que criou dois filhos sozinha e ainda encontrou coragem para ser mãe de mais 10 filhas do coração, trabalhando duro a vida inteira. Mas não é. Esta mulher que fez de um pequeno restaurante o passaporte para o maior sucesso da culinária de todos os tempos, neste município, tornou-se parte importante da história política e social de Feira de Santana. Acumulando prêmios que serviram de incentivo para seguir em frente, carrega no nome a sua marca: Ana da Maniçoba.

Nascida no distrito de Bonfim de Feira e criada pela família de Augusto Fróes da Motta, na praça que leva o nome da família, Ana Maria Beirão Jorge se define como “a mulher mais feliz do mundo” e tem razões para isso. Exibe com orgulho as fotos dos filhos Geovane e João Guilherme e dos netos, espalhadas pela sala de casa, e diz que não tem do que reclamar, pois sempre teve “a recompensa de Deus”. Aos 86 anos de idade, lembra com detalhes da decoração da Festa de Senhora Santana, que oferecia juntamente com Marinete Leal. Há quatro décadas é evangélica, “pela vontade de Deus”.

Guiada pela fé, Ana coloca amor em tudo o que faz, seja na condução da família, que inclui um número incontável de sobrinhos – de sangue e de coração – que a chamam de “mãezinha”, seja ajudando quem precisa, principalmente por meio do alimento. “A gente só faz o que Deus quer”, afirma, com uma humildade comovente. As dificuldades sempre foram superadas com força e fé e os ganhos foram muito mais significativos. Os títulos de “Mãe do Ano” e “Rainha de todas elas”, bem como todas as homenagens recebidas, afagam a alma, mas não a envaidecem.

Pelo restaurante “Cantinho da Paz”, há 60 anos funcionando no mesmo lugar, na rua Tereza Cunha Santana, passou boa parte da história da política feirense. Bem relacionada, Ana não somente recebia figuras de destaque da sociedade, como abria portas para realizar festas. Emocionada, fala de Colbert Martins, João Durval, Celso Daltro e lembra Ulisses Guimarães, que conheceu “bem de perto”. Roque Aras era advogado e amigo. Foram ele e mais três colegas que reabriram o restaurante, fechado pelo então delegado Major Diógenes.

“Quando eu cheguei na Delegacia tinha mais de 60 carros parados, que foram até o restaurante em fila. Fizeram até abaixo-assinado”, conta Ana, diante do olhar maravilhado da neta Laila Geovana, professora de Filosofia, pesquisadora, Bacharelanda em Direito e Mestranda em Estudos de Linguagens (UNILAB), que não cansa de escrever sobre a avó. “É necessário ter referência, lembrança e memória de valores para nos inspirar diariamente. Falar sobre minha vó é tecer linhas e páginas sobre amor, bondade, justiça, partilha, comunhão, escuta, ética e sabedoria”, diz a jovem.

Com uma memória absurdamente ativa para quem já viveu quase um século e muita serenidade, afirma que não falta fazer mais nada, embora sua missão seja “determinada por Deus”. Especialista em comidas regionais fortes – além da maniçoba, sarapatel e mocofato – ela agradece o dom para alimentar pessoas. Conhecida até no exterior, Ana da Maniçoba se orgulha da relação que mantém com a imprensa e conta que já foi entrevistada por 17 pessoas de uma vez. “Também fui citada por Willian Bonner na Rede Globo”, recorda.

Além do “Cantinho da Paz”, ela ainda mantém o restaurante do Mercado de Arte Popular, instalado em um tempo em que a palavra empreendedorismo praticamente não existia, mas a coragem e a determinação, sim. “Tudo que eu tenho foi a maniçoba que me deu”, garante. E se pudesse nascer de novo, queria ser mulher e negra”, diz a filósofa da vida, que teve que parar de estudar no ginasial, no Colégio Santanópolis, por conta de uma meningite. “Meu sonho era ser advogada, para defender as mulheres”, confessa.

Apelidada pelo jornalista Oydema Ferreira como “Pérola Negra”, Ana, que carrega o nome da padroeira da cidade, já foi coroada Rainha da Micareta, madrinha do Fluminense de Feira, Mãe do Ano. Recebeu a Ordem Municipal do Mérito, Comenda Maria Quitéria e Troféu Personalidades. Foi homenageada no Dia Internacional Da Mulher Negra. Pelos historiadores e antropólogos é lembrada como patrimônio de Feira de Santana. A todas as condecorações ela celebra e dá a mesma importância: “Cada uma representa um momento da minha vida”.

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